6 de novembro de 2015

Alunos da Tufi Madi, Mirassol, restauram paredes com arte e doações

FOTOS: Mara Sousa
Com doações e boa vontade alunos fazer 'arte' na parede
O que seria só mais um exercício de apostila para alunos do ensino médio está transformando uma escola estadual de Mirassol. Estudantes da escola Tufi Madi colocaram a mão na massa e em tinta. Assim, estão recuperando e pintado salas de aula, que, de aparências desoladoras, passam a ter telas de arte em suas paredes. Os ambientes até então desagradáveis são belos, representam os alunos, e fazem com que as horas de estudo sejam melhor aproveitadas. O projeto começou em maio e seis salas já foram restauradas.
“A atividade tem o nome de Olhar de Estrangeiro. O aluno deveria observar o seu meio como se fosse pela primeira vez. Depois, fazer um desenho em um papel. Pensando melhor, decidimos que faríamos isso, mas nas paredes das salas de aula”, conta a professora de arte da Tufi Madi, Ana Paula Chierotti Zanin, idealizadora do projeto.
Ela está envolvendo os alunos de todos os anos do ensino médio. Eles mesmos, com a ajuda de Ana Paula, fazem todo o trabalho. As salas são lixadas, recebem massa corrida para tapar os buracos, três paredes são pintadas com tinta látex, os barrados são feitos em esmalte e então o desenho escolhido pelos estudantes ganha a parede oposta à da lousa.

Como era antes

Como a escola não tem recursos, os próprios alunos fizeram vaquinha para comprar o material. “É bem bacana. Ao mesmo tempo que une a sala, aprendemos a trabalhar em equipe e a ter responsabilidade e organização”, conta o estudante Igor Garcia, 17 anos.
Na sala em que ele estuda, os alunos decidiram que fariam uma homenagem ao rap Sabotage. O cantor e compositor brasileiro foi ladrão e gerente de tráfico de drogas até encontrar a saída na música. “Ele é de origem humilde e conseguiu superar tudo com o rap. A vitória dele é uma inspiração para nós”, diz Igor.
O interessante é que a escola Tufi Madi atende alunos de bairros carentes de Mirassol. Os estudantes vêm de famílias simples. Há pichações com apologia ao uso de drogas mas, depois que as salas foram pintadas, ninguém mexe, acabaram as depredações. “É emocionante, uma experiência única. A gente estava acostumada com uma sala feia e agora está linda. Há um resgate do valor da escola para nós”, diz Raquel Lopes, 15.
“A sala estava muito detonada e o ar era pesado lá dentro. Agora ela se transformou em outro ambiente, ficou bem legal. Faz a gente pensar na importância da escola”, diz a aluna Maria Fernanda Navarro Alves, 16.
Realmente, quem entra em uma sala que ainda não passou pela restauração vê que o espaço é feio e desestimulante. As paredes são pintadas em um tom de verde “carregado”. Algumas têm buracos tão grandes que parecem que vão vazar para a sala ao lado e estão rabiscadas. “Ganhamos com isso. A escola é mais bem vista agora. Minha mãe adorou o projeto”, diz a estudante Camila Delfino, 16.
Os familiares dos alunos conheceram o trabalho feito nas salas na noite da última terça-feira, depois da reunião de pais e mestres. A intenção de Ana Paula era mostrar aos pais o trabalho dos filhos e também sensibilizá-los para ajudar a restaurar mais salas. “Não temos dinheiro. Se um der uma tinta, outro lixa e, assim por diante, teremos como recuperar outras salas”, diz a professora. O projeto prevê que as salas do ensino fundamental também passem pela transformação.
A aula de arte passou a ser um momento esperado pelos estudantes. É que saí da apostila para a prática. “Uniu muito mais a nossa turma e pintar foi um momento divertido e descontraído”, diz Ronaldo Tavares, 17.
A estudante Rafaela Pereira da Silva, 15, diz que a atividade fez com que os alunos passassem a gostar mais e a zelar pela escola. “É como se fosse a nossa casa. Todo mundo trabalhou e todo mundo ajuda a cuidar dela”. Ela escreveu um texto e encaminhou para oDiário. Quer que outras escolas públicas façam o mesmo, resgatem o prazer em estudar e o valor da escola.

Protagonismo juvenil

"Olá, boa tarde. Meu nome é Rafaela Pereira da Silva e represento a Escola Estadual Tufi Madi. Estou no primeiro ano do ensino médio e, com a diretoria e professores, elaboramos um projeto social para mudar nossa escola. Conto o nosso trabalho para que não fique só entre nós e seja abraçado por outras escolas.
Estamos vivendo um momento difícil, com o país em crise, e a educação sendo deixada de lado. Porém, é muito fácil cruzarmos os braços, reclamar e nada mudar. Para que haja mudanças, nós temos que ter atitude e darmos o primeiro passo.
Arrecadamos dinheiro entre nós, pintamos as salas, para que possamos ter momentos de estudo em um lugar agradável, porque não tem condições de passarmos 6 horas por dia em um ambiente tão desagradável.
Nosso projeto mostra que, sim, podemos viver em um mundo melhor se cada um fizer sua parte. Depois de começarmos nosso projeto, diminuiu muito o vandalismo na escola. Cada sala tem um tema e todos estão zelando para que tudo continue em perfeito estado.
E não vamos parar por aí, queremos pintar nossa escola inteira, que está pichada logo na porta de entrada com frases ofensivas aos nossos policiais e incentivando o uso de drogas. Quero que outros estudantes saibam o que fizemos e todos os alunos da rede pública de Mirassol e região reconheçam que para mudar o Brasil devemos ter atitude".





FONTE: Diário da Região

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